Aventura: Os Bandidos do Sul

---

A brisa gentil balançando seus cabelos e soprando contra a pele em seu rosto o fez despertar. O jovem samurai, de olhos virados para o céu viu a copa da árvore sob a qual repousava. Seu estômago começava a roncar. Ele havia viajado por alguns dias sem nenhum rumo, desde que abandonou seu último lar onde trabalhara como ajudante de marceneiro para ganhar seu arroz diário.

Sakamoto era jovem, determinado, porém sua aparência e sua linhagem o faziam não ser bem aceito pela sociedade. Ele tinha o sonho de encontrar significado em sua vida, talvez um novo mestre para lhe ajudar a trilhar o caminho da espada, mas primeiro, ele precisava sobreviver.

Sentado sobre a grama o rapaz olhou ao redor, de cima da colina onde descansava. Foi então que ele avistou uma fazenda nos campos gramados ao norte, ela estava longe, talvez uns cinco quilômetros de distância.

---

Sakamoto se levantou e decidiu partir na direção da fazenda. Ele já estava acostumado com rejeição e ser expulso de locais habitados por humanos, por este motivo ser recusado em mais um lugar não faria diferença, já a oportunidade de conseguir algo para comer, não poderia deixar passar.

O jovem samurai caminhou na direção da fazenda durante alguns minutos. Foi descendo a colina, passando por alguns bosques e arbustos. Ao lado de um lago. Por uma trilha de terra até encontrar um cercado.

Atrás do cercado havia uma pessoa caminhando, parecia uma jovem moça, ela passeava pelo terreno da fazenda. Quando Sakamoto já estava perto o suficiente para que ela o enxergasse, a garota parou estática, encarando-o com os olhos semi-arregalados.

---

A jovem garota estava paralisada, ela encarava o ronin viajante fixamente e mal conseguia se mover. Foi apenas no instante em que ele abriu a boca e disse "olá" que ela deu um grito agudo e tropeçou para trás, caindo sentada no chão.

– Y-yokaI! Por favor, não me machuque! – E então ergueu as mãos na frente do rosto, como se estivesse se protegendo. Para Sakamoto aquele tipo de reação não era incomum, porém, não deixava de ser inconveniente ser visto como um monstro apenas por ter um enorme chifre em sua testa.

---

Mesmo com as palavras do ronin ela ainda aparentava não compreender bem que ele não desejava impor-lhe nenhum mal. Ela começou a chorar enquanto erguia as mãos, cobrindo o rosto para evitar ter que ver o terror de ser morta pelo monstro que achava que era.

– N-não me devore! – ela chorou, confundindo-o com algum tipo de Oni por conta de seus chifres. Aquilo de certa forma era ofensivo para Sakamoto, afinal ele era um meio Yokai e não um Oni.

---

Sakamoto começava a ficar nervoso, talvez pela situação estressante ou apenas pelos gritos da garota que se negava a ouvir o que ele tinha para dizer. O espadachim yokai avançou na direção da garota, em plena luz do dia e acertou um golpe em seu pescoço, desmaiando-a com a força de seu ataque.

A garota que já estava em choque e sentada no chão despenca sobre a grama, desmaiando no solo e completamente indefesa. Seus cabelos, ainda penteados caem sobre o solo, os braços derramados sobre o torso agora imóvel permitem o samurai observar a humildade em suas vestes, nada nela ostentava. Seus chinelos eram velhos e a yukata esverdeada estava surrada.

---

Após o golpe ecoar no silêncio do campo da fazenda, Sakamoto sentiu o ardor nas juntas de seus dedos se espalhando por toda a superfície de sua mão. Naquele momento houve conflito em seu coração, pois ele estava agindo da mesma forma que os humanos que tanto o odiavam.

Havia uma árvore com um poço logo ao lado da construção principal da fazenda. O ronin levou a garota até lá e no caminho encontrou uma horta de cenouras, ele terminou de levar a garota até a árvore aonde a repousou e percebeu que ela estava desacordada apenas superficialmente e logo acordaria.

---

Sakamoto decidiu não roubar as cenouras ainda, neste momento ele se moveu até a parte de trás da árvore e ficou observando a jovem garota. Passaram-se alguns minutos até ela emitir algum tipo de gemido, tomando consciência novamente.

Agora acordada, ela levantou abruptamente, apoiando as costas com força na árvore. Suas mãos percorreram seus peitos e o estômago, depois a própria face, fazendo ela suspirar em alívio e se questionar em voz alta – O que? Estou viva? –

---

A voz veio do nada, por um segundo a garota pensou que era a própria voz de sua consciência falando, mas quando se deu conta e assimilou a memoria da voz da criatura Yokai ela saltou para o lado oposto, se virando na direção da árvore.

– Ah! O que!?!? – ela agarrou um punhado de grama no chão por reflexo, erguendo na direção da árvore assustada – Por favor, não me mate, eu imploro! e então se curvou, pondo a testa na terra enquanto chorava...

Não muito longe dali...

O samurai Ronin Yukimura, dentro da fazenda conversava com Haizo, um fazendeiro que passava por alguns problemas com um grupo de bandidos que o extorquia mensalmente. Yukimura por ser um samurai treinado ofereceu sua espada para ajudar Haizo com seu problema com os criminosos. A negociação foi breve, e, neste momento ele era guiado pelo fazendeiro em direção a saída.

– Eu ficarei muito grato, senhor samurai, se o senhor conseguir... Dar um jeito neles, entende? – falou Haizo ao abrir a porta de correr, dando passagem para o lado de fora da fazenda.

---

A jovem garota, imersa em seu desespero, teve um segundo de choque. Ela foi afligida por um susto ainda maior ao ver a criatura yokai oferecendo sua própria lâmina para a própria. Instintivamente a jovem fazendeira segurou o cabo da espada, mas não se moveu, permaecendo imóvel e em silêncio por alguns segundos.

– C-como assim? – falou, hesitantemente e com grande nervosismo em suas falas. A mão fraquejou e a espada caiu no chão – Quem é você? Não vai me matar?! perguntou, sentando-se sobre as pernas dobradas com uma feição ainda assustada.

Não muito longe dali...

Do lado de fora da fazenda Yukimura e o velho Haizo paravam em frente a porta, dando sequencia à sua conversa com uma voz cansada – Acho que eles tem um acampamento ao sul daqui, entre as montanhas! – ele apontou o dedo para o horizonte, onde duas montanhas cobertas por floresta jaziam.

Do bolso do traje jinbe ele retirou um maço de tabaco velho, ele reclamou – Mal tenho dinheiro para pagar os impostos ao Senhor Feudal, quem dera ser extorquido por quem nem me ajuda!! – e então acendeu o cigarro numa vela pendurada na varanda da casa.

---

Ela começava a chorar, mas não de medo ou desespero. A garota havia acabado de lidar com algo que nunca havia presenciado. Nela havia vergonha e de certa forma arrependimento. A jovem abaixa a cabeça novamente contra o solo e pronuncia com sua voz trêmula – M-me desculpe? – e de seu rosto, ainda escorriam algumas lagrimas – Mas por que está aqui? ela perguntou, agora curiosa, enquanto tentava se recompor.

Não muito longe dali...

– Yukimura-dono! – exclamou Haizo, pondo a mão em seu peito – Sou um homem de palavra, eu prefiro pagar qualquer valor para um samurai com honra do que um bando de criminosos!! – e então o velho fazendeiro puxou de seu bolso um saco repleto de moedas sen, o qual Yukimura pode ver claramente através da entrada do saco o brilho de todas as moedas.

---

Mesmo pensativa, ela se sentia aliviada e de certa forma mal por ter agido daquela forma com o rapaz yokai, era como se um novo mundo estivesse sendo revelado para ela, que, em sua educação limitada foi ensinada que as criaturas mágicas eram cruéis e maldosas – Ahm – ela relutou, olhando para trás e encarando a fazenda, mas deu de ombros – Acho que sim, posso tentar falar com meu pai – e então ela se levantou, limpando suas vestes e aguardando que o ronin yokai a seguisse..

Não muito longe dali...

– Boa sorte, Yukimura-dono! – falou Haizo, acenando para o viajante samurai que partiu na direçao ao sul, descendo por um campo onde eram plantadas cenouras até encontrar a jovem filha do fazendeiro, próxima a uma árvore e ao lado de um Yokai, como ele reagiria?