Finalizado: O Espírito Azul

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Gritos ecoavam em meio a floresta de maneira repetidamente. Eram gritos sincronizados, um berro, uma pausa e depois outro em seguida. Conforme o vento se aproximava da origem daquele som destoante em meio a natureza, foi de encontro a um rapaz as margens de um rio corrente.

O jovem segurava sua espada, não tinha perícia, era desajeitado e a pegada frouxa. Mas sua determinação e vontade inabaláveis o fizeram, por conta própria, aprender o básico em como manusear uma espada.

Tenaka praticava todas as manhãs no rio ao lado do templo Lianhua, onde havia sido criado por sua avó. Nesta manhã não havia sido diferente. Ele desceu logo cedo o monte e começou a brandir sua espada pelo menos uma centena de vezes.

Antes de completar a nonagésima quarta, Tenaka sentiu uma aproximação, o som de passos e um galho se partindo a pelo menos cinco metros atrás dele, se não fosse a quietude da floresta não teria reparado.

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Com a resposta de Tenaka, Junpei não parecia preparado para uma continuação da conversa. Ele demorou alguns segundos para falar alguma coisa, ao ponto de tornar aquele silêncio constrangedor – Barulhenta e cheia de gente – ele respondeu breve e direto após o silêncio.

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– Você aprende a lidar – ele respondeu, e então ambos apertaram o passo. Começaram a caminhar pela estrada e assim seguiram. A viagem foi longa, percorrendo campos, colinas e indo na encosta de algumas inúmeras fazendas que habitavam a região. Tudo estava de certa forma calmo e tranquilo. Vez e outra encontravam viajantes em sentido oposto, mas nenhum os parou e todos seguiram suas viagens. Foi então que uma floresta foi surgindo no horizonte – É ali, depois da floresta – disse Junpei.

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– Hmm – Junpei parecia pensativo conforme eles avançavam, a caminhada de apenas alguns minutos que dava espaço para seus pensamentos só foi interrompida por uma única frase – Ela é difícil de lidar – e então eles seguiram para a floresta... Após mais um longo período de viagem, já era tarde e Tenaka começava a sentir fome.

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Junpei seguia caminhando mais na frente, ele respondia apenas dando com os ombros sem se incomodar com a brincadeira de Tenaka – Não – ele recusou a oferta de comida e ambos seguiram...

Com a fome saciada, Tenaka pôde contemplar sem nenhuma hesitação a imagem de um poderoso reino adiante. Passando pelas últimas levas de árvores, ambos se depararam com a cidade que cobria o horizonte, era a aldeia de Utakata.

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A cidade era enorme, as ruas eram repletas de pessoas que iam e vinham. Casas e prédios se amontoavam no horizonte. Tudo aquilo era de certa forma novo para Tenaka, ele se sentia claustrofóbico ao receber tanta informação ao mesmo tempo. Lojas, mercadores, cavalos, residências... Em meio a esse caos, Junpei foi caminhando até o canal que cruzava a cidade, ele desce as escadas de pedra até um pequeno caís onde havia um único barco atracado, ele conversa com o barqueiro e lhe entrega algumas moedas – Por aqui – disse o viajante chamando pelo rapaz.

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As ruas de Utakata eram repletas de atividade, embora não a ponto de dificultar o avanço dos viajantes. Tenaka, ligeiro em seus olhares, notou a entrega do saco de moedas, mas preferiu não mencionar nada. Junpei, o contratante do barqueiro, foi o primeiro a embarcar na canoa, seguido por seu companheiro. O canal, que cortava o coração daquela cidade da província, se estendia em direção ao norte. Entrando na embarcação, o homem envolto em um manto e usando um chapéu de palha empunhou o remo, impulsionando o barco com facilidade. Uma suave brisa de verão soprava suavemente, trazendo um calor reconfortante. O barqueiro, completamente de boas, quebrou o silêncio da viagem com um comentário – Que belo dia, não acham? Está quente! – As palavras do barqueiro ecoaram. Era como se aquele simples comentário trouxesse uma sensação de camaradagem e alívio em meio à jornada que se desenrolava.

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A jornada prosseguia pelo tranquilo canal, enquanto a canoa deslizava suavemente sobre as águas. O barqueiro misterioso mantinha um sorriso em seu rosto. Junpei, com seu olhar fixo e concentrado, parecia imerso em seus próprios pensamentos. Por outro lado, Tenaka, com sua curiosidade inquieta, decidiu quebrar o silêncio ao perguntar sobre pontos turísticos na região. – É sua primeira vez em Utakata? – Perguntou com entusiasmo. – O centro da cidade é verdadeiramente maravilhoso, repleto de vida e com uma variedade incrível de opções gastronômicas. No entanto, se você busca uma experiência verdadeiramente especial, eu recomendo a Residência Nobre Kazuki, ao norte. Lá você encontrará o renomado restaurante Bunka Deai, que é simplesmente o melhor da região – A resposta do barqueiro despertou o interesse de Tenaka, que anotou mentalmente a sugestão para explorar o local mais tarde. A atmosfera calma e serena do canal proporcionava uma sensação de tranquilidade aos viajantes. O barulho suave da água e a brisa fresca que acariciava seus rostos contribuíam para a atmosfera relaxante da viagem. A cada curva do canal, novas paisagens se revelavam, com a beleza natural da província de Utakata se desdobrando diante de seus olhos.

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A viagem de barco de Tenaka, Junpei e o próprio barqueiro se fez breve após a conversa, criando um ar de tranquilidade. Enquanto seguiam pelo canal, Tenaka percebeu gradualmente uma transformação nas paisagens ao seu redor. As modestas casas das ruas iniciais deram lugar a imponentes residências de arquitetura pomposa e cores vibrantes. O bairro rico surgia diante deles, exibindo seu esplendor. A canoa atracou num pequeno caís às margens do canal, o barqueiro reverenciou e Junpei foi o primeiro a se levantar. "Vamos", disse ele para Tenaka, incitando-o a se juntar a ele na próxima parte da jornada.

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Tenaka e Junpei avançaram pela estrada de terra, deixando para trás a serenidade do canal e adentrando um bairro mais nobre da província. Enquanto caminhavam, Tenaka observava com curiosidade a variedade de lojas e estabelecimentos ao seu redor. Tapeçarias coloridas, lojas de móveis exquisitos e restaurantes com aromas tentadores despertavam sua atenção. A medida que prosseguiam, uma visão magnífica se erguia no horizonte: uma imponente torre de vários andares adornada com símbolos religiosos. Era a torre de um templo sagrado, um marco icônico na paisagem de Utakata. Sem hesitar, Tenaka e Junpei atravessaram os majestosos portões que guardavam o terreno do templo. À medida que se aproximavam da enorme torre pagode, sua grandiosidade o deixava admirado. A torre erguia-se majestosamente, com suas várias camadas e telhados curvilíneos. Tenaka e Junpei pararam diante da imensa torre pagode, sentindo a magnitude e a energia que emanava dela

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Junpei da dois passos adiante. Ele ergue a mão e toca a porta. Tenaka que estava mais atrás o observava atentamente. O silêncio é quebrado com a resposta de Junpei. "Em casa" ele disse misteriosamente. Com força, o viajante empurra a porta e revela um enorme salão, repleto de vigas e decorações formosas. Estátuas religiosas de doze guardiões divinos adornavam as vigas verticais próximas aos tetos. Fieis do septo Xintoísta encaravam a porta, tendo sua oração interrompida. "Onde está minha irmã?" ele pergunta para o jovem que estava mais perto, que apenas aponta para cima. Junpei então segue na direção de uma escadaria que havia aos fundos do salão.

Apesar de responderem à sua cortesia, nenhum dos acólitos parecia dar a merecida atenção aos visitantes. Eles passaram direto pelo salão principal e seguiram pelas escadas. O corredor os guiou para um segundo, depois um terceiro lance de escadas até chegarem no andar mais alto. "Ai ai" Junpei reclamou, arfando em frente a porta. "Está pronto?" ele perguntou em voz alta, mas parecia que estava falando consigo mesmo.

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Com a mão erguida e a cabeça abaixada, Junpei começou a escorrer a porta. No meio de sua ação, uma voz ecoava, era doce, porém forte e firme "Por que hesita, meu irmão?" ela disse, fazendo o corpo inteiro do homem se arrepiar em desgosto, ele arfou e terminou de escorrer a porta. Tenaka se deparou com um enorme salão, com velas, incensos, totens, selos e uma infinidade de artefatos religiosos. No centro do quarto, uma mulher repousava, como uma princesa, de frente para uma enorme fileira de pergaminhos, um dos quais era enorme e ela, com as mãos nuas, desenhava com tinta vermelha algo que parecia uma pintura. Seus cabelos eram brancos assim como seus olhos e sua pele, ela era linda. "Olá, irmã-sama" sua voz, em tom breve, o fez se ajoelhar de imediato, lançando a mão por traz da nuca de Tenaka e o obrigando a fazer o mesmo.

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– Levante-se – ela disse, repousando o pincel ao lado do pote de barro que comportava a tinta que usava para pintar – Por que se atrasou em sua viagem? E quem é este que traz consigo? – as perguntas eram sérias e tinham um tom ameaçador.

– Em minha peregrinação, encontrei rastros de um espírito azul próximo ao templo Linhua... Tentei ajudá-los, mas todos foram mortos... Algo está acontecendo, minha irmã. Os demônios estão atuando cada vez mais próximos de vilarejos e cidades. Devemos fazer algo a respeito. Este é o único sobrevivente. – ele falou, ainda de cabeça abaixada.

– Junpei! – sua voz em exclamação demonstrava um tom de ira, mas ao mesmo tempo uma surpresa desagradável. Ele permaneceu de cabeça abaixada e não disse nada naquele instante.