Finalizado: A Vidente

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Antes de partir, Yoko havia reunido todo o dinheiro que podia. Apenas com as roupas do corpo e um conjunto de heranças deixadas por sua família, a jovem partiu na direção do único horizonte que lhe dava algum tipo de alento e esperança, um nome, uma família...

Era tarde, o clima estava abafado e os céus estavam fechando. O som das aves ecoavam pela floresta de bambus por onde a carroça passava. Um único cocheiro guiava o caminho, açoitando os cavalos de vez em quando. Os passageiros se sentavam na carga. A madeira era velha, mofada e repleta de rachaduras. Ao lado de Yoko um peregrino com um enorme chapéu de palha segurava um conjunto de contas e orava mantras diariamente. Do lado oposto havia um homem em seus vinte anos, seus cabelos desgrenhados, um quimono em trapos e uma espada na qual apoiava as mãos e a cabeça indicavam que era um espadachim.

Dentre todos eles, a que mais lhe chamava a atenção era uma jovem garota, sua pele era clara e lisa como uma gema lapidada. Os cabelos eram negros como o carvão mais preto que pode existir, assim como seus olhos. S semblante era sereno. Durante uma breve troca de olhares, a garota sorriu de volta para Yoko, a viagem seguia...

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Yoko se absteve de falar com a garota misteriosa. Ela abaixou seu rosto em pesar por seu passado que a fazia lembrar da dor de perder seus filhos. Aquilo era algo que talvez ela nunca conseguisse superar, mas naquele momento, a dor transparecia em seus olhos.

O monge, focado em suas preces, não reparou. O samurai encarava o caminho que o cocheiro seguia, atento aos arredores. Por outro lado, a jovem garota de olhar sereno sorria e perguntava com sua voz doce e mansa, conforme se prostrou para frente e apoiou a mão esquerda no joelho jovem viajante – Por que você está triste? –

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Ela recua lentamente, apoiando as mãos nas próprias pernas e sorrindo com o olhar, cerrando os olhos e tornando seu semblante ainda mais puro e sereno – Mah... Eu sinto muito pelo que você passou, as coisas vão melhorar para você – e então ela voltou a apoiar as costas na carruagem, ainda de olhos fechados e descansando a cabeça.

O cocheiro seguia os guiando pelos campos de bambu até vocês encontrarem o céu aberto mais adiante, a floresta chegava ao seu fim e um bosque tomava o lugar. A carroça neste momento começava a descer uma colina.

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Algo naquela mulher escapava a percepção de Yoko, uma mescla de incerteza e aflição. Era como se a garota pudesse enxergar através da sua dor, no mais íntimo do seu ser. Ao mesmo tempo, a garota era tranquila e bela. Os pensamentos da jovem gueixa se perderam no momento em que chegaram ao fim do bosque de bambus.

A brisa era forte, o som dos grilos alto e alguns pássaros cantavam ao longe. Era tarde, talvez quatro horas. O céu estava começando a fechar, o silêncio da viagem a tornava morosa e depressiva.

– Estamos perto do povoado Ryonin – respondeu o velho cocheiro, um senhor gentil de feições amigáveis, com seu chapéu de palha tapando sua nuca desprovida de cabelos e um bigode trançado, longo como suas barbas.

A carroça seguiu viagem, descendo a colina numa trilha tortuosa, repleta de curvas e desvios. Foi neste instante em que Yoko percebeu o samurai, com seu dedo polegar, erguendo um centímetro da lâmina de sua espada, era como se ele estivesse preparando um ataque.

Somente após o som da lâmina sendo preparada que o cavalo relinchou e o cocheiro puxou as rédeas com força até parar a carroça. Uma misteriosa viajante anunciava sua presença com um amigável e despretensioso “opa”. O monge interrompeu suas preces e olhou por debaixo de seu chapéu de acólito, segurando com firmeza seu shakujo. O samurai silencioso a encarava, mesmo de olhos fechados, enquanto a garota estranha balançava as pernas e olhava para o céu murmurando alguma canção antiga.

– Mais um? – questionou o cocheiro, que olhou rapidamente por cima do ombro encarando a carga. Havia mais um espaço ao lado da jovem gueixa. Ele deu de ombros e voltou a encarar a viajante misteriosa – Para onde está indo minha jovem? – ele perguntou, com um sorriso gentil estampado em seu rosto.

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Com seu olhar frio e a aura intimidadora, o samurai apenas baixou a lâmina, escondendo o fio metálico e voltando a descansar sua postura. Era como se ele estivesse pronto para uma briga, mas desistiu ao ouvir o rumo da conversa.

– Acho que estamos perdendo tempo – ele respondeu, em sua arrogância, pouco antes de olhar para cima com os olhos cerrados e encarar o céu – Logo vai chover – ele reclamou, recuando os braços para cima de sua espada, na qual se apoiava.

Enquanto isso o cocheiro dava atenção ao misterioso viajante que se revelava com autenticidade como um homem, apesar de que embora estampasse uma aparência forte, com músculos aparentes e um semblante firme, não conseguiu escapar dos olhos sagazes de um velhote com muitos anos de experiência.

– Hyehye – ele riu, abanando a mão em frente ao rosto descontraidamente – Desculpe, desculpe, samurai-dono! Dois de meus viajantes estão indo para Utakata, seria um prazer lhe dar uma carona – acenou com a cabeça e convidou-o a embarcar na carroça – Me chamo Taito – finalizou prestando uma humilde reverência.

– Pobre alma, viajando perdida neste mundo – orou o monge que segurava seu cajado com mais firmeza, enquanto a garota no outro canto da carroça chacoalhava as pernas e sorria – Ara ara, seria uma pena se ele fosse um assassino e estivesse nos distraindo enquanto arqueiros se preparam para nos atacar, fufufu –

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– Um grande homem me disse uma vez que o mundo é governado por tolos – a jovem que chacoalhava as pernas havia parado naquele instante, encarando Yoko com um olhar gentil e confiante, o que será que ela quis dizer com aquilo e a quem estava se referindo? Quem sabe...

O tempo de apresentação era breve e curto, Misaki havia ganhado uma carona e tentou ser amigável com o silencioso espadachim que em sua gentilidade inapta respondeu curto e grosso – Tanto faz – e então com um suspiro abaixou ainda mais o seu sugegasa e pôs se a tentar dormir.

A caravana estava definitivamente completa, o grupo formado, Misaki embarcou na carroça pela parte de trás e o cocheiro ria com as mais diversas interações de um dia um tanto quanto incomum até mesmo para sua idade velha. Conforme a carroça seguia pela floresta, desaparecendo no horizonte em um clima de descontração, o monge recitava um novo mantra de forma inesperada – Namuamidabutsu – e então a carroça desapareceu no horizonte...

(...)

Com mais algumas horas de viagem, dito e feito... Os céus se fecharam num clima abafado e a chuva começou a cair sobre suas cabeças. O cocheiro não demorou nem alguns minutos para soltar o primeiro espirro. O grupo seguia pela planície antes da cadeia de montanhas que levava ao vilarejo Ryonin, talvez em uma ou duas horas de viagem alcançassem seu objetivo, mas, preocupada com o cocheiro a jovem aos fundos, de maneira despretensiosa, falou – Vejam, um templo! Que tal pararmos para esperar a chuva passar? – ela apontou para uma construção no meio de uma colina, parecia ser um templo estacionário, local de oferendas para viajantes, coberto por um telhado abobadado.

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– Ora, quantos anos você acha que eu tenho? – a jovem se virou, colocando a mão direita por trás do pescoço e fazendo uma pose "sensual", segurando o riso por apenas um segundo antes de cerrar os olhos e soltar uma leve gargalhada boba.

Enquanto isso, Misaki dirigia a palavra para o cocheiro que começava a espirrar. Por ser mais velho era claro que seria o primeiro afetado com o clima ruim, porém, com idade avançada também vinha a teimosia de velho – Forte como um urso, não é uma chuvinha que vai me parar! Hyehye! A menos que vocês queiram descansar! – ele falou olhando por cima do ombro conforme a carroça foi passando pelo templo.

O olhar de Misaki para o templo não lhe trazia nenhuma aflição ou sentimento negativo. Era um dia como qualquer outro e ela não pressentiu nenhum tinido maligno com sua intuição afiada (...) foi neste instante em que Yoko começou a pensar um monte de coisas, criando teorias em sua cabeça sobre o que poderia acontecer. Ela teria continuado não fosse a garota lhe encarando novamente, desta vez com os olhos abertos e um sorriso posado. As vezes ela sentia que ela lia seus pensamentos...

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– Ara! Dez? Eu tenho dezoito! – ela riu, tampando a boca com o chute distante de Yoko. Apesar de que, de certa forma ela realmente parecia ser muito jovem. Ela era estranhamente baixinha com uma pele estranhamente lisa e cabelos estranhamente brilhantes. Apesar da chuva, continuavam lisos e arrumados, um ar incomum pairava sobre a garota.

– Hyehye, tudo bem, tudo bem! Me ajude a amarrar o Kojuro então! – o silêncio foi quebrado com a resposta do velho cocheiro apontando para o cavalo que tinha uma enorme franja cobrindo seu rosto... Ele se dirigia a Misaki, conforme foram subindo a colina e alcançando o templo que contava com uma estátua de Buda no centro, muretas baixas e algumas vigas dando apoio para o telhado abobadado que protegia o centro.

Aquele local era pacífico e sereno, mas antes que qualquer um pudesse entrar o monge deu alguns passos a frente e tirou um saco de moedas de suas vestes, inserindo seis peças de Sen num pote, ele fez uma oração e seguiu na direção da estátua, onde ele se sentou em posição de Lotus e começou a rezar. O samurai apenas entrou, ficou ao lado da entrada e colocou a espada ao seu lado.

O cocheiro foi com uma pequena sacola, puxando Kojuro com a ajuda de Misaki, eles amarraram o cavalo do lado de fora, onde o telhado ainda poderia protegê-lo. Já a estranha garota entrou cantarolando, com as mãos para trás e de olhos fechados – Que tal uma fogueira? – ela perguntou.

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– Comendo? Acho que eu ando comendo muitos Dangos... E Eu tenho os meus truques! – a jovem garota respondeu Yoko com um sorriso no rosto e uma piscadela no final, ela parecia confiante quanto ao fato de acender uma fogueira.

– Eu pego – falou o samurai, vestindo seu chapéu e se levantando. Ele foi caminhando na direção da entrada e depois desceu as escadas, caminhando na direção da floresta. Enquanto isso o monge continuava falando e Misaki se aproximou da jovem também.

– Deixa eu pensar – a garota pôs o dedo em seu lábio inferior, como se estivesse pensando ou quem sabe formulando uma resposta – Infelizmente eu não posso contar, se não eu teria que matar todos vocês – e então o silêncio predominou naquele templo.

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• Misaki: 5/5 (+10 XP)

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