Aventura: A Caixa Misteriosa

Pouco tempo depois de ter acordado, eu já observava de forma cuidadosa o movimento na cidade. Com meu olhar oculto pelo chapéu, examinava cada pessoa que passava. Suas vestes, seus modos de caminhar e de se portar, o volume em suas roupas e até mesmo as expressões de seus rostos. Cada um desses itens poderia denunciar um otário em potencial para eu me aproveitar. Esperava mais do que qualquer coisa, achar boas oportunidades de ganhar dinheiro e obter alguma vantagem. — Vamos lá, Aneki. O que acha de procurarmos algum restaurante onde você possa fazer bico? Ou melhor, nós duas... — A melhor coisa que alguém como eu poderia ter, depois de dinheiro, era informação. Obter informação por meio da minha irmã poderia ser bem útil caso encontrassemos algum lugar onde suas habilidades culinárias fossem bem-vindas. Logo começava a andar, assim que ela estivesse satisfeita com seu descanso e matasse sua sede.

— Como quiser,  vou tentar pensar em alguma outra coisa. — Respondi para a Aneki, mesmo sabendo que nossos pais iriam entender no caso da gente acabar "trabalhando" em outro restaurante. Ela não tinha entendido totalmente onde eu queria chegar, já que no fim o que eu planejava fazer era justamente desmoralizar a concorrência para eles, afinal, roubar lugares conhecidos é bem mais fácil. — Caçar não é uma má sugestão, desde que você enfrente o bicho enquanto eu pego as ervas, é claro. — Respondi para ele enquanto começava a caminhar. Em pouco tempo esbarrei num garoto, minha primeira reação foi de confusão, mas logo tratei de sorrir despretensiosamente e agir de forma mais amigável para que ele se acalmasse. Peguei o vaso que caiu ao chão com cuidado, mas sem deixar de examinar visualmente o item a fim de ver se era bem feito ou qual seria o seu provável preço. — Ora, garoto. Não precisa ter medo, isso é coisa que acontece. — Estendi a mão, ajudando-o a se levantar e em seguida entreguei o vaso a ele. — Veja só, o vaso nem se quebrou, não precisa ficar triste. Como é que você se chama? — Perguntava, como quem não queria nada.

Minha primeira impressão da situação acabou sendo um pouco errada, o moleque não estava tremendo de medo por qualquer coisa. O garoto desmaiar não era algo necessariamente ruim, honestamente isso tornava as coisas bem mais fáceis, já que não precisaria manter minha fachada amigável e... também era uma boa oportunidade a ser explorada. Ao ver Aneki agindo de forma tão esperta, escondi meu sorriso por trás do chapéu enquanto segurava o vaso com a outra mão. Me aproximei do líder dos samurais com cuidado, fazendo uma reverência e oferecendo o vaso com as duas mãos. — Não há porque levantar a espada. Como minha irmã disse, nós não somos criminosas. Espero que vossa excelência perdoe o mal entendido, assim que recebemos notícia que um ladrão de vasos estava à solta, nos preocupamos e então, por acaso, reconhecemos esse artefato valioso que ele carregava. Como nós nos preocupamos muito com a cultura e a segurança da cidade, não podíamos ficar paradas. — Depois da reverência, me levantava e continuaria, ainda mantendo meu rosto parcialmente escondido.  — Não queria me meter em seu trabalho de investigação, mas esse garoto tem todos os indícios de ser só um capanga ou escravo de alguém, ele até mesmo desmaiou quando apertamos ele. —

Pronto, lascou-se. Eu não tinha a menor intenção de me envolver em um conflito de humanos nojentos, ainda mais numa situação onde potencialmente teria polícia envolvida. Não tomaria partido e a verdade era que tudo o que eu mais queria é que os dois lados se explodissem e eu só vazasse com a ânfora, um artefato de importância daquelas deveria valer muito. — Espere. — Parei no ato antes de entregar a ânfora para o ruivo, depois do outro homem surgir no ambiente. — Agora, como posso saber que essa ânfora te pertence? Quem está falando a verdade? — Perguntei pra ele enquanto recuava e protegia o artefato, sabia que aquela ânfora deveria ser algo importante para os dois lados. Balancei o artefato de forma sugestiva nas minhas mãos, quase deixando-a cair pra tentar deixar o que falaria a seguir mais convincente. — Peço aos senhores que tenham calma. Vocês não vão querer que um artefato importante desses acabe se quebrando em uma luta, não é? Baixem essas espadas e vamos colocar os pingos nos is. — Eu dizia enquanto segurava a ânfora calmamente, esperando que algum dos dois lados se identificassem como parte de algum órgão oficial. No entanto, já estava pronta para fugir com o vaso caso minha estratégia não funcionasse, ao meu arredor, analisava rotas de fuga: ruas que não fossem muito estreitas e nem muito largas, com poucas pessoas transitando, tentando dar alguns sinais não-verbais para minha irmã de que a coisa poderia esquentar.