Finalizado: O Espírito Azul

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Gritos ecoavam em meio a floresta de maneira repetidamente. Eram gritos sincronizados, um berro, uma pausa e depois outro em seguida. Conforme o vento se aproximava da origem daquele som destoante em meio a natureza, foi de encontro a um rapaz as margens de um rio corrente.

O jovem segurava sua espada, não tinha perícia, era desajeitado e a pegada frouxa. Mas sua determinação e vontade inabaláveis o fizeram, por conta própria, aprender o básico em como manusear uma espada.

Tenaka praticava todas as manhãs no rio ao lado do templo Lianhua, onde havia sido criado por sua avó. Nesta manhã não havia sido diferente. Ele desceu logo cedo o monte e começou a brandir sua espada pelo menos uma centena de vezes.

Antes de completar a nonagésima quarta, Tenaka sentiu uma aproximação, o som de passos e um galho se partindo a pelo menos cinco metros atrás dele, se não fosse a quietude da floresta não teria reparado.

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Tenaka em toda a sua inocência e humildade se prostrou diante do viajante, baixando sua cabeça e pedindo pela ajuda do homem. No instante seguinte, o rapaz sentiu a forte dor de algo maciço batendo em sua nuca. Era o cabo da espada do homem. O impacto fez Tenaka se levantar e o encarar novamente.

– Idiota, o que você acha que vim fazer aqui? Mas não sou capaz de enfrentar mais de um Oni se for o caso, é provável que muitos morram e o templo seja destruído – pela terceira vez, o homem encheu outro copo para beber.

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– Francamente! – ele reclamou fazendo menção de o golpear mais uma vez, porém não o fez. O homem misterioso apoiou sua espada novamente no chão e agarrou o copo, bebendo uma terceira vez. Era difícil de entender suas intenções e ações, talvez estivesse se preparando ou despreparando mentalmente para o que viria.

– Acha que o seu sacrifício vale de algo? Não seja um tolo. As pessoas morrem e vão continuar morrendo, se você se sacrificar não será útil para nada, será apenas um estorvo – ele bebeu mais uma vez, depois trancou a garrafa com a rosca e continuou a encarar o chão por um instante, depois, encarou Tenaka em seus olhos pela primeira vez durante todo o dia. Tenaka percebeu o vazio em seus olhos.

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Um suspiro pesado foi o que Tenaka ouviu como resposta, ele simplesmente resolveu desenrolar o futon atrás dele e apoiar a cabeça e as costas, como se estivesse se espreguiçando para descansar da longe viagem.

– Você vai arrancar a cabeça de um ou dois onis na tentativa de salvar alguém. Depois, vai ser morto e após alguns segundos eles vão se regenerar e continuar matando, é assim que são as coisas – o samurai respirou fundo de novo, dando uma longa pausa dessa vez – Demônios sentem cheiro de sangue, mas se distraem facilmente com alvos fáceis... Se você fugir agora consegue descer a montanha sem ser percebido – ele falou, virando o corpo e se deitando de lado, olhando na direção oposta à entrada do quarto, onde Tenaka se sentava.

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– Se não fugir, não vai viver para sequer se arrepender – replicou o homem enquanto Tenaka fechava a porta, falando no mesmo tom baixo de sempre, se o rapaz ouviu? Quem sabe. Agora Tenaka precisava lidar com a ansiedade e o terror mental de imaginar que este poderia ser seu último dia de vida.

Ele vai até a dispensa para colher um pouco de água, usando um jarro de barro e uma tigela pequena para beber, o rapaz percebia a tremedeira em suas mãos.

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Depois de beber um pouco de água, Tenaka começou a caminhar pelo templo. Ele passou pelos corredores externos e percebeu que não havia ninguém do lado de fora. Ele estranhou, mas seguiu. Caminhando por mais alguns minutos começou ouvir um forte som de preces vindo do saguão principal de orações.

Tenaka foi andando naquela direção até chegar diante da porta, lá ele ouviu todos os monges num coro de orações em um bom tom, como se todos estivessem compartilhando do mesmo mantra espiritual. O monge estava no meio deles.

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Ao se juntar às preces, Tenaka começou a meditar para tentar se livrar da ansiedade e o medo que percorria seu corpo. Uma das sacerdotisas do templo passou entre cada um dos jovens aprendizes usando uma varinha Gohei, ela salpicava sal sobre seus corpos e expurgava os maus espíritos com seu bastão purificador.

Durante a vez de Tenaka, ele sentiu o seu corpo mais leve e a ansiedade desaparecer durante todo o ritual. Com o fim das orações, o sacerdote finalmente se pronunciou – Meus irmãos, um infortúnio caiu sobre nosso templo. Como alguns já devem saber, há um mal à nossa espreita aguardando o momento final de seu ataque. Não temos forças para enfrentar algo tão grandioso quanto tal demônio, porém devemos fazer o possível para proteger tudo o que estiver dentro desse templo – estas foram suas palavras naquele momento.

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• Experiência: 2/5 (+4 XP)

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O monge parecia carregar um grande peso em suas palavras. Enquanto isso a sumo sacerdotisa se deslocava para a entrada do templo – Infelizmente não há nenhum feitiço tão poderoso que possa impedir um Oni Espírito Azul – sua tristeza era transmitida para todos os outros aprendizes do septo que ficavam de cabeça abaixada.

– E o pior de tudo... Um viajante vem em nossa presença para nos alertar deste fardo. Um ato nobre que nos deu tempo para uma última purificação da alma para uma passagem tranquila – ele falou, com um tom de aceitação.

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Depois de falar com o monge, Tenaka não se sentia conformado da mesma forma que seus companheiros. Nele havia uma chama que o forçava a pensar em alguma forma de superar aquela situação, de lutar pelo seu destino. Ele foi até o quarto dos visitantes, passando pelos corredores e ficando de frente para a porta do quarto em que ele descansava.

O rapaz chamou pelo viajante, mas não houve resposta, apenas o silêncio. Ao se aproximar da porta, pôde ouvi-lo dormindo.

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A voz de Tenaka estridente e repentina fez o Samurai se levantar de imediato, ele puxou sua espada e por um instante, o rapaz se viu perdendo a própria cabeça, mas logo percebeu estar inteiro e o coração acelerou agressivamente.

– Está ficando senil? – ele perguntou num tom de bronca, mas relaxou e voltou a se deitar, virando para o canto novamente.

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O samurai arfou, sua respiração pesada pode ser ouvida claramente por Tenaka. Era um suspiro de cansaço e ao mesmo tempo desanimo – Não faço a menor ideia, mas vai aparecer – conforme Tenaka ia falando ele se rendeu e voltou a ficar sentado.

– Você não pode matar um Oni com nada que tenha aqui, num templo tão pacífico como este – ele falou, puxando a espada para perto de seu corpo, revelando sua estranha lâmina brilhosa por um segundo.

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– Nada que você possa aprender em apenas algumas horas – mas o samurai que agora estava sentado apoiou a espada no chão e cruzou as pernas, fazendo uma feição de pensativo enquanto apoiava a mão no queixo.

– A menos que... Não, deixa para lá – após ter uma suposta ideia, ele tentou espairecer ela, como se não valesse a pena seguir com aquele pensamento.

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Ainda relutante, o homem permaneceu sentado, retirando a mão de seu queixo e suspirando mais uma vez. Ele colocou a mão no tatame e começou a explicar com bastante detalhes.

– Tem um jeito, mas é muito difícil... Você precisa ir até o rio e seguir sua margem até encontrar algum lago. Preciso de uma flor azul da montanha com espinhos vermelhos, depois, irei desenhar um selo mágico que afastará os oni – ele fez um gesto com o dedo no carpete, como se estivesse desenhando um selo que havia memorizado a algum tempo.